Por que greves não devem ser graves

Gente, o troço é antigo mas é assim que funciona até hoje:

A pinimba é sempre Capital X Trabalho (eu avisei que a nomenclatura era antiga, fica quieto antes que você ganhe um pedale, ameba!). O Capital entra com a remuneração e com a oferta de emprego para ter lucro, e o Trabalho entra com a mão-de-obra raladora (também podia ser: o Capital faz canto e dança, e o Trabalho carrega o piano).

Daí que quando o Capital quer negociar com o trabalho, por deter o $, sempre leva vantagem na negociação. Mas quando o Trabalho não está satisfeito com a remuneração e pretende negociar com o Capital, a única maneira de que dispõe é da negociação a partir da não-oferta de sua mão-de-obra.

3mar2014---cerca-de-200-garis-se-reuniram-na-frente-da-estacao-central-do-brasil-no-centro-do-rio-de-janeiro-onde-realizaram-uma-assembleia-sobre-a-greve-que-realizam-na-cidade-dos-cerca-de-15-mil-1393866962749_956x500Com isso, o trabalho mostra não só ao capital mas também a quem se beneficia de sua mão-de-obra o quanto ele (Trabalho) é imprescindível, e como sua parte no quinhão social deve ser respeitada e considerada, caso contrário babau. Há quem chame de chantagem, e não deixa de ser. Mas funciona.

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Agora vamos transpor essa tática aí de cima pra pinimba garis X prefeitura do Rio de Janeiro:

1- Garis ganham uma merda um salário muito baixo. Garis querem aumento

2- Garis tentam negociar com prefeitura. Prefeitura se recusa.

3- Garis entram em greve. Deixam de fornecer à cidade do Rio de Janeiro sua mão-de-obra sistemática. Querem que a cidade entenda e sinta como seu trabalho é importante e imprescindível.

{6cc30fdb-b6a4-48bd-8f2e-08da23b4baf2}_24- Cidade sofre com as conseqências da falta do trabalho sistemático dos garis. * Cidade reclama da falta do trabalho dos garis. Cidade acha que gari não deveria parar de trabalhar nunca. O prefeito idiota demite 300 garis que têm estabilidade no emprego garantida por concurso público. O prefeito imbecil afirma que apenas 300 garis estão em greve – mas a realidade cascônica da cidade refuta tal afirmação.

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5- A situação chega a um nível insustentável. A pressão dos garis paralisados funciona.

6- Prefeitura dá aumento que garis pediam.

7- Fim da greve dos garis.

O comportamento da prefeitura do Rio de Janeiro e da Imprensa foi vergonhoso, abjeto. Tentaram desmerecer a causa, o trabalho, a função e, principalmente, a reivindicação da categoria. E se ferraram bonito.

Não vou entrar aqui em questões de casa grande X senzala, racismo, mentalidade escravocrata dazelite etcetcetcetc. A linda da Renata Lins já fez isso de forma primorosa. Vou me ater a pensar aqui cocêistudo o conceito de greve na sociedade atual.

A imprensa brasileira segue uma irritante fórmula para noticiar greves.  Todas as manchetes saem mais ou menos assim:

[insira aqui o nome da categoria] entra em greve e prejudica [insira aqui o nome da parte da população prejudicada pela greve]

Isso me irrita por alguns motivos:

1- Greves são decididas com antecedência. Portanto, não havia repórter cobrindo a categoria no momento em que a greve foi decidida. Muito menos aparece reportagem que avise a população coisas como: “Semana que vem os carteiros devem entrar em greve, antecipe todo o envio de cartas que você tiver que fazer para não ser tão prejudicado”.

2- Na hora de noticiar, sempre um tom de espanto, surpresa. Como se a greve não fosse previsível.

3- Além do espanto, só um lado da notícia é mostrado:o lado de quem perde com a falta do trabalho. Nunca, jamais, se conta por que a categoria entrou em greve, ou por que a reivindicação da categoria procede.

4- No caso de categorias com data-base fixa, ou seja, aquelas que sempre têm negociação na mesma época do ano, e que sempre entram em greve na mesma época do ano, a coisa é ainda mais irritante.

Tomemos os bancários como exemplo: a data-base é em outubro/novembro (repare que greve de bancário sempre ocorre nessa época do ano). Issos significa que a negociação do sindicato dos bancários com a Fenaban, o lado dos bancos, em JULHO. E a Fenaban (que reúne instituições que, ao longo do ano, anunciam lucro de bilhões de reais), afirma que não tem dinheiro e que não vai dar aumento. [pausa para você rir]. E a negociação vai até as últimas consequências, até que o sindicato, que está há TRÊS MESES negociando com a Fenaban, não vê outra saída que não convocar greve. Dá pra brincar de bingo, porque a situação se repete TO-DO-A-NO.

Aí começam as manchetes infames: “Bancários entram em greve e prejudicam aposentados / Bancários em greve prejudicam população”.

Agora me ajudem: como fazer para que o direito de greve seja compreendido e respeitado pela polulação?

E como terminar esse texto? Tô com a impressão de que não me fiz entender…

(Aguardo os comentários! 😀 )

Sobre Madrasta do Texto Ruim

Comporte-se, e eu não te juro hemorroidas!
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8 respostas para Por que greves não devem ser graves

  1. Achei que no fim das contas ficou confuso sim. Acho que as greves devem ser graves porque se não ninguém vai ligar. Alguém notaria uma greve de engenheiros? Mas uma greve dos garis feita no Carnaval foi excelente! O que não pode é a gravidade da greve ser exagerada pela imprensa como se fosse um atentado à população.

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    • Madrasta do Texto Ruim disse:

      Isso, isso, isso!
      O que a imprensa tem que fazer é explicar a função social daquela greve, por que tal categoria está paralisada, e por que a população precisa dar conta do perrengue sem reclamar.
      É assim na França, por que não pode ser assim no Brasil?

      Mas, ó: superobrigada pela sua participação aqui! Volte sempre, zifio! 😀

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    • Junior disse:

      Bom, acho que vou chover no molhado… O problema é que a imprensa está do lado do Capital e sempre vai minimizar as necessidades dos menos afortunados (menos quando gerar polêmica favorável).

      Como os cidadãos confiam muito na imprensa, acabam comprando a ideia de que os grevistas são exagerados, que estão pedindo muito, ou que estão chantageando o empregador. O que precisa ficar claro é que quando a greve não é justa (normalmente) a própria categoria fura. Eu mesmo já vi uma greve ser solenemente ignorada por 95% de uma empresa. No caso o sindicato forçou uma votação tendenciosa numa reunião com 2% dos trabalhadores.

      Na minha opinião, quando entram em greve, todos os trabalhadores envolvidos devem informar exaustivamente (através de blogs, redes sociais, faixas, cartazes, etc) a pauta da paralisação para que o máximo possível de pessoas tenha informação sobre perrengue.

      Abraços

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      • Madrasta do Texto Ruim disse:

        Isso, isso, isso, Júnior! Vc falou tudo – inclusive usou a expressão na vibe certinha: gerar polêmicaO_o

        Obrigada, e volte sempre! \o/

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  3. Gabriel disse:

    O melhor da greve dos garis passou quase desapercebido: A greve não foi apoiada pelo sindicato (http://tinyurl.com/obrhbdl), que já estava se encaminhando pra fechar aquele acordinho básico e deixou bem claro que não teve nada a ver com isso, KKK. Os reaça denunciaram o caráter “político” da greve, o mesmo que denunciar o caráter água do suco de laranja. O melhor é que eles ganharam e ganharam bonito!
    Quanto à aceitação da greve pela população, o espantoso não é a mídia cair de pau, isso é natural (até na França, rs, os comentários sõ os mesmos), o espantoso é que muitas pessoas apoiam! Como o apoio da população à passeata no Rio ou as reações na porta de banco na greve. Muita gente ainda ecredita na luta, graças ao meu bom Marx!
    Essa vitória foi realmente impressionante, são essas coisas que ainda me dão esperança de continuar lutando.
    Abraço
    Gabriel

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  4. E. Goldan disse:

    Amei o blog! Era justamente o que estava faltando….
    A espera do livro “Politica para Leigos “, vou comprar com certeza. 🙂
    Não para com os textos pq já és responsável por tudo aquilo que cativas hein!

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    • Madrasta do Texto Ruim disse:

      Podexá, Erika! Tenho uns dez posts na fila….
      Seja bem-vinda, volte sempre (e aceite vc e todos os visitantes um bolinho de fubá com cafezinho, cabei de passar… 😀 )

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